Adriano Machado/Crusoé

Exclusivo: “O presidente está com medo de receber algum respingo”, diz Bebianno a Crusoé

14.02.19 18:26

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, afirmou a Crusoé que está sob ataque público de Jair Bolsonaro porque o presidente tem “medo de receber algum respingo” das investigações sobre a existência de candidatas laranjas do PSL nas últimas eleições.

“Não sou moleque, e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo”, afirmou Bebianno em entrevista na tarde desta quinta-feira, 14, enquanto seguia do hotel em que mora em Brasília — e onde passou todo o dia — para o Palácio do Planalto.

“Imagino que ele (Bolsonaro) esteja com esse medo. Imagino que ele esteja com essa preocupação infundada. Alguém botou minhocas na cabeça dele em relação a esse assunto”, emendou o ministro. “Por que ele não tem essa preocupação em relação a Minas Gerais?”, indagou.

Bebianno diz que não pode ser responsabilizado pelas supostas fraudes envolvendo as candidatas laranjas. “Se tem alguma fraude, alguma coisa de errado, a primeira coisa que se pergunta é o seguinte: quem foi o beneficiado?”, afirmou.

Ele voltou a dizer que falou várias vezes com Bolsonaro na terça-feira, ao contrário do que Carlos Bolsonaro afirmou nas redes sociais, ao dizer que  o ministro mentiu. E por que não divulga o teor das conversas? “Porque ele (Carlos) não é nada no governo. Eu sou um ministro. Tenho que respeitar a liturgia do cargo”, declarou.

Bebianno, que durante a madrugada estava praticamente decidido a deixar o governo e passou o dia recebendo recomendações de aliados para não pedir demissão, disse que pretende seguir seu trabalho. “Meu foco agora é o trabalho, tentar reparar os possíveis estragos que possam ter existido”.

E se o presidente quiser mandá-lo de “volta às suas origens”, como o próprio Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira que poderia acontecer? “Todos voltaremos às nossas origens. O presidente não morrerá presidente.” Até o fim da tarde, Bebianno ainda não havia sido recebido por Bolsonaro para conversar sobre o seu destino. A seguir os principais trechos da entrevista.

A responsabilidade pela destinação das verbas do Fundo Partidário do PSL foi sua?
À nacional compete fazer uma…  São dois dinheiros, eu já falei isso umas vinte vezes e vou falar de novo. São dois dinheiros. Um dinheiro é o fundo eleitoral, que, no caso do PSL, foi em torno de 9 milhões de reais. Desses, 30% a lei obriga que sejam para a candidatura de mulher. Então, que mulheres você vai indicar? Como a Nacional garante que esses 30% sejam observados? A Nacional fez a distribuição do fundo eleitoral e disse o seguinte: cada estado tem de mandar o nome das mulheres para quem quer enaltecer com essa ajuda financeira. Cada estado mandou.

No caso de Pernambuco, quem mandou?
O diretório estadual de Pernambuco. O (Luciano) Bivar.

Mas o Bivar não era o presidente do diretório de Pernambuco.
O presidente era o Rueda (Antonio de Rueda, advogado e aliado de Bivar).

Mas quem mandou a lista foi o Bivar?
Alguém lá. Não me lembro quem assinou, foi alguém da Estadual (refere-se ao diretório estadual). Assim como na Nacional não fui eu que recebi, foi alguém que assinou. No fim da eleição, dia 3 de outubro, o STF autorizou que aquela verba especificamente de mulher. Todo mês o partido recebe lá o fundo partidário, 5% tem de ser guardado para o PSL mulher. Entendeu a conta? Aí você vai acumulando aquilo. Esse dinheiro pode ser usado para fins de incentivo à participação feminina em eleição no mundo político. Você faz seminário, eventos, a fim de incentivar a participação feminina. Esse dinheiro não pode ser usado para fins eleitorais. Por isso não foi usado. No entanto, no dia 3 de outubro de 2018, o Supremo Tribunal Federal, numa ação que foi promovida pelo Ministério Público Federal, autorizou que excepcionalmente seria o último ano, a última eleição, em 2018, aquele dinheiro poderia sim ser usado para fins eleitorais, já no apagar das luzes. Então foi aquela coisa. Nós começamos a ver, nos estados, quem tinha interesse para investir em alguma candidatura. Pernambuco pediu por escrito que fosse destinada essa verba para duas candidatas (Érika Siqueira Campos e Maria de Lourdes Paixão). Se você me perguntasse se as candidatas tinham condições de eleição ou não, eu não sei, não faço a menor ideia. A Maria de Lourdes eu nunca vi na vida, não conheço, não sei quem é. E Érika nunca foi minha assessora. A Érika trabalha no Recife há 500 anos. Ela mora em Recife. Eu conheci a Érika assim que eu assumi a Nacional. Ela veio mandada pelo Bivar para dar uma ajuda, porque ela faz o papel de assessora de imprensa. Ficou aqui um mês e meio, dois meses. Quando viu que não tinha nada para fazer e tava gastando dinheiro com hotel, voltou para Recife. Nunca foi minha assessora, nunca me assessorou em absolutamente nada. Eu não moro em Pernambuco, não conheço a realidade política de Pernambuco e a Nacional foi atender a um pedido da executiva estadual. Ponto. Mandou-se o dinheiro. Quem tem a competência no poder judiciário, para saber, apreciar, se aquele dinheiro foi bem utilizado ou não?  É o Tribunal Regional Eleitoral. A competência é local, é do estado. Não é o TSE. É isso que as pessoas não querem entender. Quem tem de analisar as contas destas duas candidatas é o TRE. Se o TRE chegar à conclusão de que houve alguma coisa errada, que se apurem as responsabilidades. Delas e lá do diretório, não a minha.

O presidente pediu à Polícia Federal para investigar. E o ministro Sergio Moro disse que vai investigar.
Ótimo. Tem que investigar mesmo, tem que investigar tudo. Tudo o que está de errado. Tudo que há de suspeito sobre o nosso governo ou as pessoas que estão… tem de ser investigado.

O senhor teme investigação?
Eu? Zero. Não sou nenhum moleque, não. Não sou moleque e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo. Ele foi um mero candidato. Ele não participou da Executiva, ele não tinha mando no partido. Ele não tem responsabilidade nenhuma.

O que o senhor acha que poderia respingar nele?
Eu imagino que ele esteja com esse medo. Eu imagino que ele esteja com essa preocupação infundada. Alguém botou minhocas na cabeça dele em relação a esse assunto. Por que ele não tem essa preocupação em relação a Minas Gerais? Não tem um problema em Minas Gerais, supostamente? Alguém diz que a responsabilidade é minha? É a mesma coisa, não é? É o mesmo caso. Por quê? E na Bahia, no Rio Grande do Sul, no Acre, em Rondônia, Roraima, Amazonas. Vou ser responsável por isso? A responsabilidade é dos diretórios estaduais, dos respectivos candidatos. A partir do momento que o dinheiro está naquela conta, a responsabilidade é do candidato. Ele que preste contas. Se tem alguma fraude, alguma coisa de errado, a primeira coisa que se pergunta é o seguinte: quem foi o beneficiado? Quem foi o beneficiário da suposta fraude? Eu não fui. Não fui candidato. Não gastei porcaria nenhuma em nada para mim. Trabalhei para eleger os outros. Não moro em Recife. Pisei em Pernambuco duas vezes na vida. Não conheço a senhora Maria de Lourdes. Mal conheço a senhora Érika. Não conheço nenhuma gráfica em Pernambuco. Como é que eu vou conhecer as gráficas do Brasil? Isso é ridículo.

Acha que há um complô para derrubá-lo?
Não acho que haja um complô contra mim, não. Acho que há o desejo de atingir o presidente de alguma forma. No caso de Minas, o presidente já estaria sendo atingido, porque tinha um ministro envolvido. No caso de Pernambuco, como o Luciano Bivar não tem nenhuma relação com o presidente, decidiram botar na minha conta. Não tem coerência. Quero ver provar alguma coisa.

Afinal, o senhor falou ou não com o presidente na terça-feira, 12?
Falei com o presidente, sim. Várias vezes ao longo do dia. Por WhatsApp, por texto. Falamos, conversamos. Recebi orientações, falamos sobre assuntos institucionais.

Por que o senhor não divulga esses áudios e essas conversas?
Porque não. Porque ele (refere-se a Carlos Bolsonaro) não é nada no governo. Eu sou um ministro. Tenho que respeitar a liturgia do cargo. Eu respeito o meu presidente. Eu estou sendo jogado aos leões de maneira injusta, mas eu continuo exercendo o meu papel de proteger o presidente da República, de seguir a liturgia. Eu não sou moleque para ficar batendo boca em rede social. Se há algum problema, eu resolvo frente a frente, olho no olho, dentro de uma sala, como uma pessoa civilizada. A gente senta, resolve. Não tem problema nenhum. Não vou ficar batendo boca em rede social. Isso é ridículo.

O senhor pretende ficar no cargo?
Eu vou trabalhar. Eu tenho trabalhos importantes a fazer. Acabei de conseguir, como resultado do meu trabalho, financiamento privado, ou seja, zero custo para o estado, para a reformulação de todo Ministério da Saúde. O brasileiro sofrendo com problemas de saúde, com dor, com cirurgia que não consegue fazer, com exames pendentes. Eu vou ao Rio de Janeiro, dou minha cara a tapa, enfrento uma máfia que está instalada lá no hospital de Bonsucesso, boto minha vida em risco pelo Brasil, consigo financiamento privado para fazer a reformulação do Ministério da Saúde, uma coisa inédita, em benefício do povo brasileiro, e tenho que perder o meu tempo com esse tipo de besteira. Não sou moleque, não tenho tempo para perder com bate boca em rede social. Não sou criança, já superei a adolescência há muito tempo. Então, meu foco agora é o trabalho, tentar reparar os possíveis estragos que possam ter existido. Como é que ficam a cabeça desses investidores que estavam acreditando no novo governo? Vou tentar fazer com que esses investidores continuem acreditando em nós, na nossa seriedade, na nossa honestidade, na nossa capacidade de realização.

E se o presidente demiti-lo? Ontem ele falou que, caso seja comprovada a irregularidade, o senhor vai ter que voltar às origens.
Todos nós voltaremos às nossas origens. As nossas origens estão no cemitério. Todos voltaremos às nossas origens. O presidente não morrerá presidente. Muitas pessoas que se elegeram agora, eu não quero citar nomes, que também estão aí sob foco de investigações. Vamos ver, está certo? Eu sou homem. Não sou moleque.

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