Marcelo Gonçalves/FolhapressCom as bênçãos de Aras e Bolsonaro, o advogado Frederick Wassef foi à sede da PGR para tratar da delação da JBS

EXCLUSIVO: JBS pagou R$ 9 milhões a Wassef

19.08.20 21:39

Advogado do presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef (foto) recebeu 9 milhões de reais da JBS, o frigorífico dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Os registros dos pagamentos constam de documentos obtidos pelos promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro que investigam a relação de Wassef com Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo do presidente da República.

Indagada por Crusoé, a JBS ainda não respondeu a que se referem os repasses. Wassef não retornou as tentativas de contato.

As informações chegaram para os promotores na esteira da mesma investigação que levou ao paradeiro de Queiroz – o ex-assessor de Flávio Bolsonaro estava escondido em uma casa de Wassef em Atibaia, no interior de São Paulo.

Ao obter dados sobre as transações financeiras do advogado, por meio de um relatório do Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, veio a surpresa: os investigadores descobriram os milionários pagamentos da JBS, distribuídos entre os anos de 2015 e 2020.

A relação entre Frederick Wassef e o enrolado frigorífico dos irmãos Batista era desconhecida até então.

Ouvidos sob reserva por Crusoé, até mesmo advogados que atuam formalmente em processos da JBS asseguram que nunca tiveram conhecimento de serviços prestados por Wassef à companhia ou a outras empresas do grupo.

Em um dos documentos enviados aos promotores consta a explicação que o advogado teria dado ao banco por meio do qual recebeu os valores: ele informou que os pagamentos seriam referentes à atuação de seu escritório em favor da companhia em processos relacionados à Lava Jato.

Esse é outro dado que desperta atenção. Não se tem notícia de qualquer atuação oficial do escritório de Frederick Wassef em processos da JBS – nem relacionados à operação nem a outros assuntos.

A JBS entrou no epicentro da Lava Jato em 2017. O grupo estava sendo investigado por operações suspeitas no BNDES e com fundos de pensão. Na berlinda, os irmãos Joesley e Wesley Batista, junto com outros executivos, fecharam um acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República.

O acordo acabou por tragar para a investigação o então presidente da República, Michel Temer, gravado secretamente por Joesley Batista durante uma conversa pouco ortodoxa no Palácio do Jaburu.

Envolta em polêmicas diversas, especialmente em razão da descoberta de que um dos procuradores que representaram a PGR na negociação vinha atuando também em parceria com um dos escritórios encarregados de defender a companhia, a delação logo passou a ser questionada.

O próprio Rodrigo Janot, responsável por fechar o acordo, chegou a pedir a anulação dos benefícios. A sucessora dele na PGR, Raquel Dodge, seguiu na mesma toada. Mais recentemente, foi a vez do atual procurador-geral, Augusto Aras, defender a rescisão do acordo em um parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal.

O julgamento da anulação da delação na corte chegou ser pautado para 17 de junho. Pouco antes, porém, a PGR reabriu as negociações com a companhia. Estava à mesa, portanto, uma última tentativa dos irmãos Batista de evitar a rescisão do acordo e, com ela, o risco de voltarem para a cadeia.

As tratativas passaram a ser conduzidas, com aval de Augusto Aras, pela subprocuradora-geral Lindôra Araújo, escolhida por ele para coordenar os casos da Lava Jato na PGR.

A certa altura, para voltar atrás no pedido de anulação apresentado ao Supremo, a Procuradoria-Geral propôs o pagamento de uma multa adicional bilionária pela companhia. A PGR queria ainda que os responsáveis pelo grupo aceitassem passar ao menos uma curta temporada na cadeia.

Era uma proposta que, à primeira vista, parecia interessante para os Batista. Por uma razão, em especial: com a rescisão integral do acordo, eles correm o risco de serem condenados e terem que cumprir longas penas em razão das investigações que os envolvem.

Em meio à pandemia, as negociações com a PGR travaram. Os advogados oficiais da JBS dizem que em setembro pretendem retomar as conversas.

Crusoé perguntou à Procuradoria-Geral da República se Frederick Wassef se reuniu nos últimos meses com integrantes do órgão. Com Augusto Aras, informou o gabinete, ele esteve reunido logo após a posse do PGR, para uma “visita de cortesia”.

Quanto a eventuais encontros com os subprocuradores-gerais da República, a resposta da Secretaria de Comunicação da Procuradoria foi a seguinte: “Sobre os demais 74 subprocuradores-gerais da República, a Secom informa que não é responsável pela agenda deles, sendo impossível obter as informações principalmente em meio à pandemia – já que estão quase todos em teletrabalho”.

Responsável por conduzir as tratativas com a companhia, a subprocuradora Lindôra Araújo afirmou a Crusoé que não conhece Frederick Wassef.

Ainda que tenham aparecido acidentalmente na investigação sobre Fabrício Queiroz, os pagamentos da JBS para o advogado de Jair Bolsonaro, que agora é um personagem crucial no caso, vão passar por uma análise minuciosa. Partindo das informações gerais do relatório do Coaf, os investigadores terão condições de saber, por exemplo, se após entrar na conta de Wassef os recursos foram transferidos ou compartilhados com outros beneficiários.

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