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‘Essa tecnologia deve ser usada apenas para salvar vidas’, diz pesquisador israelense sobre Pegasus

24.07.21 18:37

A Anistia Internacional e a ONG francesa Forbidden Stories conseguiram acesso a uma lista de 50 mil pessoas que tiveram seus celulares atacados ou invadidos pelo software Pegasus, da empresa israelense NSO Group. A lista, que foi analisada por 17 veículos de comunicação, mostrou que, em muitos casos, regimes autoritários e ditaduras usaram o programa para espionar e perseguir jornalistas, políticos opositores e defensores dos direitos humanos.

Para Tal Mimran, diretor de pesquisa do Centro Federmann de Pesquisa em Segurança Cibernética da Universidade Hebraica de Jerusalém, o software Pegasus tem cumprido bem o seu papel de combater pedófilos, terroristas e traficantes de drogas, mas é preciso adotar mais medidas para que o programa não seja usado para outros fins. Segue a entrevista que Mimran deu para Crusoé:

O que pode ser feito para evitar que os softwares de vigilância sejam usados de forma indevida?
Todos os esforços devem ser feitos para verificar se empresas como a NSO estão fazendo o possível para garantir que a tecnologia esteja sendo usada da maneira pretendida. No caso do Pegasus, o objetivo final desta tecnologia é salvar vidas, prevenindo o terrorismo e crimes graves. E o trabalho feito até agora não deve ser descartado facilmente. O controle então pode ser feito por meio de investigações eficazes, imparciais e amplas. Se uma irregularidade for constatada, o cliente deve ter o sistema desconectado. Nos últimos anos, o NSO desconectou clientes algumas vezes. Isso não é algo que deva ser menosprezado. Novas tecnologias sempre oferecem uma oportunidade e um risco. Essa tecnologia deve ser usada apenas para salvar vidas, e é preciso assegurar que a busca por esse objetivo sagrado esteja acontecendo.

O que mais poderia ser realizado?
Obviamente, Israel regula a exportação de produtos relacionados à segurança. Além disso, existe uma regulamentação extra feita pelo Ministério da Defesa de Israel, que restringe o licenciamento de alguns produtos da empresa. Para avaliar cada venda, o Ministério da Defesa considera as relações externas de Israel, os compromissos internacionais assumidos pelo país na área de direitos humanos, o risco de exposição de tecnologias avançadas e outras coisas. Dentro da empresa, também há um controle. Eles anunciaram que fazem uma auditoria interna, na qual monitoram clientes reais e potenciais, e publicam um relatório de transparência. Nesse documento é possível ver que a empresa tem uma lista de 55 países para os quais não vendeu e não venderá produtos de inteligência cibernética por causa de sua preocupação com direitos humanos, corrupção e devido a restrições regulatórias. A área em que se pode avançar mais é na da transparência. Os estados e as empresas devem ser mais claros sobre como abordam a possibilidade de uso indevido e como analisam os candidatos a clientes. 

Não seria o caso de implementar sanções contra o NSO Group?
Esse caso mostra como lidar com as questões do ciberespaço é desafiador. Criminosos e terroristas não são ameaças que possam ser ignoradas. Além disso, eles são um problema transnacional. Portanto, a comunidade internacional deve regular melhor o ciberespaço, seja porque estão ocorrendo muitos ciberataques, seja porque é preciso saber o que acontece com o uso desses programas de vigilância. Os estados não podem se permitir ficar atrás das ameaças em termos de tecnologia, mas ao mesmo tempo devem demonstrar responsabilidade e prudência ao fazê-lo. O NSO Group está fazendo seu trabalho desenvolvendo tecnologia e oferecendo-a aos estados, mas os governos também devem cumprir seus compromissos com seus cidadãos e com outros países. Prefiro um mundo em que existam empresas como a NSO, sem dúvida, do que um ambiente sem elas. Ao mesmo tempo, acredito fortemente que devemos avaliar constantemente a melhor maneira para assegurar alguns valores cruciais para a nossa sociedade, como os direitos humanos, a transparência e a igualdade.

Que impacto o escândalo do software Pegasus pode ter no futuro?
A espionagem é uma peça do kit de ferramentas de vários estados e não há sinais de que as operações diminuirão em um futuro próximo. Na verdade, o que deve acontecer é o oposto. Quanto às alegações relacionadas ao NSO Group, cada incidente deve ser examinado de perto. Em algumas matérias, foram incluídas ressalvas quanto à capacidade de determinar o que é exatamente esta lista de alvos e qual sua relação com o NSO. Seria melhor se existisse um mecanismo internacional capaz de analisar e verificar essas questões, mas ainda não temos algo assim. 

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  1. Afirmo que nenhum dos que aqui escreveram tenham ideia do que significa a tecnologia de segurança cibernética e o que já temos aqui.Este tipo de gado,quando se olha no espelho,se enxergam como lobos, que não são e nunca serão.

  2. 1- Não é admissível uma empresa israelense, desenvolvedora de uma tecnologia espiã, iniciar uma conversação com um governo como o do Bolsonaro. Será que às autoridades israelenses, bem como os executivos da empresa que comercializa, não fazem o follow up do cenário político dos países interessados? Uma tecnologia como essa geraria um desequilíbrio na nossa democracia, pois obviamente seria usada para monitorar opositores ao governo. Aviso aos judeus. Ainda não somos um República das Bananas.

    1. Nóóóóóssaah!! ,,, desde qdo o PAULO Palhaço, discípulo do Agripino virou patriota?

    2. 2- Somos uma economia importante no mundo. Se querem apoiar que o nosso país, vire uma República das Bananas, não fiquem achando que não terão represálias, seja dos cidadãos brasileiros, ou da comunidade internacional. SOMOS BONS, MAS NÃO SOMOS BOBOS. Apesar de estarmos bem atrasados nas diversas áreas tecnológicas como país, temos excelentes mentes. Mentes que se constatarem alguma ameaça, colocaram toda a capacidade de conhecimento para equilibrar o jogo. NÓS TAMBÉM SABEMOS JOGAR.

  3. Então viagem frustrada pro Carluxo e o pai. A estória do Spray Nasal era balela. A gente imagina o que esse clã faria com uma arma poderosa dessas...

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