Raylson Ribeiro/MRE

Em busca de sobrevida no cargo, Ernesto tenta guinada pragmática

02.03.21 17:48

O ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, tomou atitude rara nesta terça-feira, 2, ao conceder uma entrevista coletiva sobre a sua condução da política externa nos últimos dois anos, refutando críticas à sua gestão, que é vista como prejudicial aos interesses do país por integrantes da oposição e de partidos do Centrão.

No encontro com jornalistas, Ernesto, em tom de quem tenta responder às críticas, falou sozinho por quarenta minutos antes de ouvir as primeiras perguntas dos repórteres. O ministro também fez acenos positivos à China, em linha com as expectativas de lideranças da base aliada do governo que pediram a sua demissão nas últimas semanas.

Com mais ênfase na pauta econômica, o ministro disse que os atritos com Pequim ficaram no passado. “Nós estamos fazendo uma estratégia a partir dos interesses do Brasil, e não nos encaixando em uma estratégia exclusivamente da China, como eu acho que era um pouco a tendência anteriormente”, defendeu Araújo. “Conseguimos coisas que não haviam sido conseguidas nessa nova relação que temos construído com a China, que é uma excelente relação”, disse. 

O chanceler mencionou como consequência direta de sua atuação junto ao governo chinês o acesso ao mercado de frutas e algodão da China por produtores agrícolas brasileiros. Em setembro do ano passado, os chineses receberam o primeiro lote de melões do Brasil, após a assinatura de um acordo fitossanitário por Jair Bolsonaro e Xi Jinping. Com bom trânsito em Pequim, a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, participou das negociações.

Evitando elucubrações ideológicas ao longo da entrevista, Ernesto rebateu críticas ao artigo em que chamou o coronavírus de “comunavírus”. Ele disse que a postagem em seu blog era uma mera releitura de um artigo de um autor de esquerda, sem deixar escapar a arrogância de costume: “Me penitencio por isso, talvez deveria ter escrito isso de maneira (mais fácil) para um nível intelectual menos exigente. Não tem absolutamente nada de atrito com a China”.

Perguntado sobre a relação ruim com a Embaixada da China no último ano, quando saiu em defesa de Eduardo Bolsonaro na trocas de farpas pelas redes sociais com o embaixador Yang Wanming, ele disse que o episódio foi “superado”. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, o ministro chegou a pedir a troca do diplomata chinês em Brasília, por meio de um telegrama secreto enviado a Pequim. Perguntado, o chefe do Itamaraty não admitiu o envio do documento.

Com relação aos Estados Unidos, Ernesto admitiu que a relação passa por uma correção de rumos em razão do novo governo de Joe Biden, mas reiterou que o relacionamento com os americanos continua bom. Ao comentar sobre o assunto, o chefe do MRE enfatizou que Brasil e EUA possuem interesses em comum na área econômica e também no meio ambiente, que ele classifica como “terreno da discórdia”. O ministro disse que seus diálogos com o secretário de estado americano, Antony Blinken, e com o escolhido de Biden para tratar de assuntos afeitos ao clima, John Kerry, foram “positivos”. Por outro lado, ele criticou movimentos da sociedade civil que, diz, tentam prejudicar a imagem do governo Bolsonaro junto à Casa Branca, referindo-se a um dossiê produzido por ONGs e pesquisadores contrários a um acordo comercial entre Brasília e Washington.

O artífice da mudança de postura do chanceler é Paulino Franco, recém-chegado a Brasília depois de chefiar a Embaixada do Brasil em Angola, e agora nomeado como secretário de Comunicação e Cultura do Itamaraty. Interlocutores do chanceler apontam que o diplomata tem convencido o ministro a abandonar a postura que até então predominava na relação do MRE com a imprensa: ao ser criticado, o ministro se fechava em copas ou se escorava em sua extensa base de admiradores bolsonaristas e olavistas nas redes sociais.

Na entrevista coletiva de hoje, por exemplo, Franco não deu a palavra a uma repórter de um site ligado a Olavo de Carvalho, optando por repórteres da imprensa profissional. Aos poucos, o novo chefe da comunicação do ministério tenta incentivar o chanceler a ter uma relação mais transparente com a mídia, da mesma forma que ala mais técnica da pasta quer imprimir tom pragmático à política externa.

O movimento é percebido por aliados do governo no Congresso como uma reação de Ernesto Araújo para garantir a própria sobrevivência. “Não vou falar sobre isso”, retorquiu o ministro ao ser perguntado sobre as críticas que sofre da base aliada de Bolsonaro no Congresso. De acordo com auxiliares diretos, o chefe da diplomacia pretende prestar contas à opinião pública com maior regularidade nas próximas semanas.

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  1. É deplorável os tipos de comentários apresentados aqui. São as viúvas do PT e saudosistas do Celso Amorim. Que lambia os pés de Fidel, Chavez, Chiao Ping, Daniel Ortega, Evo Morales e outros ditadores africanos, Ernesto Araújo tem suas limitações óbvias, mas é um bom diplomata.

  2. Esse inepto deveria manter sua boca de caçapa fechada. Suas cretinices ditas para agradar aos broncos aloprados, prejudicam o país e nos envergonha.

  3. “ Nível intelectual menos exigente”. Entendo assim aqueles que ser curvaram a Donald Tramp, o pior Presidente Americano desde George Washington. Nesse nível intelectual são os que tacham a China de comunista, que se referem a imunizante numa pandemia, como vacina chinesa. Os que seguem o charlatão da Filosofia, Olavo de Carvalho. E assim são aqueles tantos em tantos blocos institucionais que o Ministro nutre forte simpatia.

    1. Um idiota. Está onde está porque foi colocado ali. Não sabe e não entende nada de diplomacia.

    2. Verdade Toni. O Arnesto possui um nível intelectual de uma ameba doente!

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