Marcos Nagelstein/Folhapress

‘É uma candidatura protagonista’, diz Leite sobre eventual aliança com Moro

01.12.21 13:50

Derrotado nas prévias do PSDB após uma disputa tensa, com troca de acusações com o governador de São Paulo, João Doria, e suspeita de compra de votos, Eduardo Leite afirma não guardar mágoas do processo, mas pontua diferenças de estilo e métodos entre ele e o agora candidato do partido ao Planalto. Diz que a “tarefa urgente” de Doria será demonstrar viabilidade eleitoral e reduzir a rejeição. Em entrevista a Crusoé, o governador do Rio Grande do Sul afirma que, nesse momento, não se vê saindo do partido, mas faz uma ressalva: “desde que PSDB não deixe de ser o PSDB”. “Vamos ter que acompanhar agora que tipo de condução o Doria vai dar”, afirmou.

O governador gaúcho tem sido procurado por outros partidos de centro e no próximo sábado se encontrará com Sergio Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência, em Porto Alegre. O ex-juiz cumprirá agenda no Rio Grande do Sul para filiação de deputados ao novo partido. Leite afirma que a candidatura de Moro “é protagonista no processo” e adianta que, se houver compatibilidade de agendas, programas e projetos com Moro, poderá estabelecer uma aliança futura com o presidenciável do Podemos. “Temos que conversar sobre alternativas à polarização e o tanto quanto for possível buscar entendimento”, disse. Abaixo, os principais trechos da entrevista: 

No dia seguinte aos problemas técnicos no aplicativo usado nas prévias o sr. disse que “do outro lado, nós vemos compra de votos e denúncias de pressões indevidas”. Tem algum indício formal dessas situações?
Disse que do outro lado víamos denúncias de compra de votos e de pressões indevidas. E isso houve. Não tenho elementos para comprovar, mas houve uma deputada falando de compra de votos. Vimos situações com vereadores do interior de São Paulo que foram suspensos na sua filiação por ter declarado apoio a mim, demissão de secretário do município de São Paulo que declarou apoio a mim pela manhã e foi demitido à tarde. E também denúncias que envolvem suposta compra de votos. Foram filiados 90 prefeitos e vice-prefeitos com data diferente daquela que se apresentou publicamente. São situações que revelam a diferença das campanhas. O partido conhece as situações e deve buscar esclarecer e tomar providências. Não necessito formalizar isso.

Durante os dias de indefinição sobre as falhas no aplicativo usado nas prévias, o governador João Doria afirmou que lhe perdoava e disse que o sr. era jovem. Afirmações como essas lhe ofenderam?
Não busco perdão do Doria porque em nenhum momento o ofendi. E nem me vejo precisando desse perdão. Ele é que precisará ser perdoado por aqueles que fez pressões, com demissões, que aconteceram na eleição. Ele tem que se preocupar mais com perdão que deve buscar.

O sr. tem encontro marcado com o Sergio Moro no próximo sábado no Rio Grande do Sul. Há alguma possibilidade de aliança?
Esse encontro já estava previsto antes das prévias do PSDB para organizar filiação de deputados ao Podemos. Temos boa relação com Podemos em nível estadual, vou receber a presidente, Renata Abreu, e o ex-juiz Sergio Moro. Temos que conversar alternativas a polarização e o tanto quanto for possível buscar entendimento. Não se deve descartar a possibilidade (de aliança). Não acho que se deva promover união em torno de algum nome e sim em torno de um projeto e uma agenda. Não está clara qual a agenda representada (pelo ex-juiz), mas, dependendo de qual for, pode até vir algum tipo de aliança. É uma candidatura, sem dúvida nenhuma, protagonista no processo e deve se ter esforço de construção. Nada acontece automaticamente ou apenas por visibilidade eleitoral. A discussão envolve projeto, programa e agenda. Até aqui essa discussão não aconteceu.

Alguns apoiadores seus o viam como um candidato à Presidência mais viável, por ter perfil mais agregador e disposto ao diálogo que o do governador João Doria. O sr. consegue enxergar Doria como próximo presidente?
Ele tem qualidades de gestor que lhe dão condição de ser presidente da República. De outro lado, precisa demonstrar viabilidade como candidato, o que envolve o desempenho nas pesquisas e principalmente uma redução da rejeição, que até agora não conseguiu. É uma tarefa urgente para o agora candidato. 

O sr. entende que tinha mais chances eleitorais que Doria?
As pesquisas demonstravam isso. Minha rejeição é menos da metade da dele. Embora tivéssemos o mesmo patamar de intenção de votos, eu tinha espaço para crescer. Mas a decisão do partido está tomada.

O sr. vem sendo procurado por outros partidos, entre eles o União Brasil. Cogita sair do PSDB?
Não me vejo deixando o PSDB, mas não quero que o PSDB deixe o PSDB. Vamos ter que acompanhar agora que tipo de condução o Doria, que é o candidato e que tem muita força pra empurrar o partido numa situação ou outra, vai dar. Pretendo ficar no PSDB, onde estou há 20 anos. Agora se o PSDB deixar de ser o PSDB, estaremos diante de outra situação. 

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