Agência Brasil

‘Dias turbulentos’ estão longe do fim, escreve Janot em sua despedida

25.04.19 18:12

Em texto de despedida encaminhado aos colegas, nesta quinta-feira, 25, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot afirmou que fez tudo que estava a seu alcance para levar a Operação Lava Jato adiante, mas reconheceu que o país ainda está longe de superar os “dias turbulentos” que a investigação trouxe, ao desvendar escândalos de corrupção em diferentes órgãos e poderes da República.

“De fato, observando o cenário atual, já com certo distanciamento do front, vejo que não estamos hoje sequer perto do fim desses dias turbulentos, infelizmente”, escreveu Janot, cuja aposentadoria foi publicada hoje no Diário Oficial da União.

O ex-procurador também mencionou a importância do equilíbrio do Judiciário na despedida aos colegas. “Em momentos de crise, a Justiça deve ser um esteio de estabilidade, até porque essa instituição foi blindada pela Constituição contra paixões e refregas próprias da vida político-partidária justamente para, no agir ponderado e imparcial, encontrar a necessária legitimidade de mediar conflitos e pacificar a sociedade”, afirmou.

“Não é por outra razão que nenhum membro da magistratura pode perder de vista o seu papel na sociedade de árbitro imparcial, seja ele um juiz de primeira instância, seja um ministro do STF, ainda que a pretexto de defender a honra da Justiça ou dos integrantes”, alertou Janot. “Digo isso porque a defesa da boa imagem do Poder Judiciário e da sua honradez não precisam de voluntarismos intempestivos e menos ainda de inovações inconstitucionais”, concluiu.

Nos dois mandados de Janot à frente do Ministério Público Federal, entre 2013 e 2017, foi realizada a maior operação de combate à corrupção da história, iniciada pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e depois espalhada para outros estados e até para a própria Procuradoria da República.

Sua gestão foi responsável pelos maiores acordos de colaboração firmados ao longo da Lava Jato, da empreiteira Odebrecht e do Grupo JBS. Esse último caso foi alvo de polêmicas pelo fato de um integrante da equipe de Janot, Marcelo Miller, ter atuado na negociação pelos irmãos Batista mesmo sem ter deixado oficialmente o cargo.

“A crise, cedo ou tarde, haverá de passar, porque isso está na ordem natural das coisas. O importante é que o Ministério Público, o Poder Judiciário e o país consigam sair desse momento difícil em condições melhores. Para isso, penso eu, é preciso, antes de tudo, preservar a institucionalidade e manter firme a unidade em torno dos valores democráticos e republicanos que considero inegociáveis”, recomentou o agora procurador aposentado.

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