A assinatura de Niemeyer contestada no projeto do novo museu em Brasília

21.12.19 12:00

Anunciado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB, como uma das grandes obras da sua administração, o Museu Nacional da Bíblia encontra resistência em vários setores da sociedade brasiliense. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo local sequer reconhece o projeto apresentado (foto) como sendo de Oscar Niemeyer, autor dos mais famosos monumentos da capital.

“Os desenhos apresentados suscitam uma série de questionamentos: Quem será o autor legal da obra? É possível emitir um Registro de Responsabilidade Técnica de um projeto cujo autor é falecido? A resposta é NÃO. Até quando alguns riscos atribuídos a Oscar Niemeyer serão usados como salvaguarda para desenvolver grandes projetos em seu nome para obras públicas, sem maiores discussões democráticas ou concorrências públicas de projeto?”, diz nota assinada pelo presidente da entidade, o arquiteto Daniel Mangabeira.

“O plano de se construir uma obra pública para a cidade com a alegação de que se trata de mais um projeto de autoria de Oscar Niemeyer, sem que ele próprio esteja aqui para adaptar seu projeto junto às demandas da comunidade, para desenvolver as informações mínimas de um estudo inicial ou mesmo para recuar da ideia acabará por abrir um precedente perigoso de projetos feitos por terceiros em nome de outros arquitetos já falecidos. Nenhum arquiteto falecido desenvolve projeto de arquitetura, portanto é absurda a ideia de que o projeto que está sendo divulgado na mídia como sendo de autoria do Oscar Niemeyer possa ser atribuído ao próprio Oscar. Isso tem que parar definitivamente”, completa Mangabeira.

Foi Paulo Sérgio Niemeyer, bisneto do arquiteto, quem elaborou o projeto baseado em um rabisco. Ibaneis anunciou, em outubro, que ele sairá do papel por meio de emendas da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados. Cada parlamentar deve destinar, aproximadamente, 500 mil reais por ano ao longo do projeto. O governo de Brasília estima que o edifício custará até 60 milhões de reais e ficará pronto em 2022.

Na  assinatura da carta de intenções e compromissos da obra, Ibaneis afirmou que a construção vai aquecer o turismo na capital. “Eu não sabia que existia o projeto de Niemeyer, mas, se tem, nós vamos seguir a tradição desta cidade, de que as obras do Eixo Monumental sejam do grande arquiteto de Brasília que foi Oscar Niemeyer.”

A população do Distrito Federal tem rechaçado novas obras monumentais por causa do desperdício de dinheiro público, como acontece com as mais recentes construções propagadas por governadores como essenciais para o desenvolvimento da capital.

Brasília tem um centro administrativo que consumiu 3 bilhões de reais dos cofres públicos desde que foi inaugurado há cinco anos, mas nunca recebeu ninguém por causa de um imbróglio judicial que envolve o governo local e as construtoras, investigadas na Lava Jato. Data do mesmo período a reforma do Estádio Nacional Mané Garrincha, por 1,5 bilhão de reais, que, segundo investigações do Ministério Público do DF, foi superfaturada. A deficitária arena consumia cerca de 1 milhão de reais mensais para manutenção até ser repassada à iniciativa privada há seis meses.

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