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Uma história de amor, favor e contradição no caso Queiroz

08.09.20 07:31

Não é só de supostos laranjas, fantasmas, transações em dinheiro vivo, cheques e afins que é feito o rumoroso caso Queiroz.

Na trama que há quase dois anos engolfa a família de Jair Bolsonaro há também uma história de amor — uma curiosa história de amor, que envolve uma procuradora aposentada homenageada por Flávio Bolsonaro, um ex-policial indicado por ela para trabalhar no antigo gabinete do filho do presidente e um depoimento que, além de jogar por terra uma mal-ajambrada versão para o intenso fluxo de dinheiro nas contas do notório Fabrício Queiroz, ajudou a reforçar as suspeitas dos investigadores.

Após ser condecorada em 2007 com a Medalha Tiradentes pelo então deputado Flávio Bolsonaro, a procuradora aposentada do Ministério Público do Rio, cujo nome Crusoé vai preservar nesta reportagem, indicou o namorado para trabalhar com o filho do presidente. O namorado dela, Agostinho de Moraes, esteve lotado no gabinete de Flávio entre 2007 e 2018 e figura entre os ex-funcionários que repassavam parte de seus vencimentos para Queiroz, apontado como operador financeiro do agora senador.

O nome de Agostinho consta do relatório do Coaf que deu origem ao caso. O depoimento da namorada, prestado tempos depois, contradiz a versão que ele deu aos promotores e reforça as suspeitas sobre a existência de funcionários fantasmas no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro na Alerj.

Os investigadores chegaram ao nome da procuradora após um novo relatório do Coaf enviado para o MP do Rio. Nele, Agostinho de Moraes, um policial militar, assim como Queiroz, aparece recebendo 1,2 milhão de reais da procuradora entre 2007 e 2019. Para entender o motivo dos repasses, os promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate àCorrupção, o Gaecc, decidiram ouvi-la.

Ela contou ter conhecido Agostinho ainda na década de 1990, depois de seu carro ter sido roubado. Desde então, disse, os dois mantêm um relacionamento e ele a visita todas as semanas, às segundas e quintas-feiras. No depoimento, a procuradora narrou como o namorado foi parar no gabinete do filho do presidente.

Em 2007, ela foi homenageada pela Alerj por “relevantes serviços prestados ao estado do Rio de Janeiro” por ter arquivado uma investigação sobre policiais civis que teriam executado dois jovens durante uma ação no Morro da Providência, na zona norte da capital. A homenagem foi proposta por Flávio Bolsonaro.

No depoimento, a procuradora contou como sugeriu a Flávio que contratasse Agostinho: “No dia da entrega da medalha, a depoente disse ao deputado Flávio Bolsonaro que Agostinho era motorista de sua confiança e o indicou ao parlamentar”.

Na sequência, a procuradora aposentada deu aos promotores uma resposta que reforçou a suspeita de que seu namorado pode ter se tornado um funcionário fantasma do gabinete: ela disse que “não sabe se Agostinho cumpria expediente na Alerj” e que “todas as segundas e quintas-feiras Agostinho estava na sua casa e, portanto, não estava na Alerj”.

Sobre a investigação do “rachid” no gabinete de Flávio Bolsonaro, a procuradora disse ter visto na TV notícias de que seu namorado estava entre os funcionários que repassavam valores para Queiroz, mas que nunca chegou a indagá-lo sobre as transações.

A partir desse ponto, ela mais uma vez reforça as suspeitas dos investigadores ao contradizer o que o namorado havia declarado anteriormente em depoimento.

Agostinho de Moraes foi o primeiro assessor de Flávio a prestar declarações ao MP. Ele falou aos promotores logo após Queiroz dizer, em entrevista ao SBT, que o dinheiro que recebia dos outros assessores era proveniente de “negócios” relacionados à compra e venda de carros.

Queiroz mudaria a versão algum tempo depois: ele passou a dizer que coletava parte do salário dos colegas de gabinete para contratar mais funcionários. Agostinho, porém, ao depor logo após a entrevista, seguiu na toada dos “rolos” com carros: disse que repassou dinheiro a Queiroz porque decidira investir na atividade de compra e venda de veículos.

A namorada dele soterrou a versão de forma, digamos, curiosa: ela disse acreditar que “o dinheiro de Agostinho não sobra para fazer negócios de carro, pois ele tem família, com dois filhos”.

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