Como a ditadura cubana usa a ajuda humanitária para acalmar os protestos
01.08.21 12:15Pela primeira vez em sua história, a ditadura de Cuba distribuirá gratuitamente alimentos que foram doados por outros países para a população. Desde o dia 11 de julho, quando milhares de cubanos foram às ruas pedir o fim do comunismo, Rússia, Nicarágua, Bolívia, México e Vietnã se prontificaram a enviar comida, remédios, seringas e produtos de higiene para a ilha (foto). Em alguns lugares, as pessoas foram avisadas de que iriam ganhar dois pacotes de massa, um quilo de arroz e açúcar, entre outros itens.
Até então, sempre que a ditadura recebia ajuda humanitária de outros países, como costuma ocorrer após furacões ou tornados, as doações, como colchões, garrafas de água e materiais de construção, eram vendidas à população.
Foi o que ocorreu no ano passado, quando o movimento Solidariedade entre Hermanos enviou doações de alimentos e remédios para as igrejas distribuírem entre 1.500 famílias pobres durante a pandemia de Covid. A carga foi confiscada pelo governo e, depois, foi encontrada nas lojas administradas pelos militares, que vendem produtos em moeda estrangeira.
“Essa história de que agora vão começar a distribuir esses pacotes de maneira gratuita só mostra o nervosismo, o pânico e o terror que tomou conta do oficialismo cubano“, disse a jornalista Yoani Sánchez em seu programa Ventana 14, no YouTube.
As províncias que serão atendidas em primeiro lugar são aquelas onde os protestos foram mais numerosos, como Havana, Matanzas, Santiago de Cuba e Holguín. “Este governo não entendeu ainda que a principal demanda dos protestos foi por liberdade. As pessoas não querem essas migalhas, sob o mesmo sistema“, diz o diretor da fundação Direitos Humanos para Cuba, Juan Antonio Blanco. “Não acho que essa distribuição de comida será capaz de evitar novas manifestações.”
Pode-se especular ainda sobre o que levou cada um dos países a tentar salvar a ditadura cubana. A Rússia enviou duas aeronaves com 88 toneladas de alimentos e equipamentos de proteção, incluindo 1 milhão de máscaras médicas.
“Há muitos russos tirando férias em Cuba. O envio desses equipamentos para a Covid ajuda os turistas a não ficarem doentes. Há rumores ainda de que os turistas russos não estão usando máscaras, o que teria deixado os cubanos que trabalham nos hotéis muito chateados“, diz o economista cubano Carlos Seiglie, da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos.
O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador mandou materiais hospitalares, como seringas e agulhas. “A política externa do México é fácil de entender. Eles sempre fazem o oposto dos Estados Unidos, por causa de um complexo de inferioridade”, diz Seiglie. “No final, tudo será usado para evitar mais descontentamento no país.”
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