Reprodução/ United Nations

Com discurso desconectado da realidade, Bolsonaro usa a ONU para falar para a militância

21.09.21 11:26

Jair Bolsonaro subiu à tribuna das Nações Unidas para fazer um discurso com ares de campanha eleitoral e em defesa de suas ações de governo. Com uma fala desconectada da realidade, totalmente voltada à sua militância, o presidente defendeu nesta terça-feira, 21, na ONU a prescrição de cloroquina para o combate à Covid, criticou a exigência de vacinação, advogou pela exploração comercial de terras indígenas e elogiou seus apoiadores que foram às ruas no Sete de Setembro. Na contramão do animus da assembleia, cuja tônica puxada pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi a de união, solidariedade e de compromissos conjuntos para lidar com os desafios no pós-pandemia, Bolsonaro apostou mais uma vez na divisão.

Logo na abertura, o presidente brasileiro reafirmou seu discurso contra a imprensa e disse que sua intenção era “mostrar algo diferente daquilo publicado em jornais e visto na TV”. “O Brasil mudou muito depois que assumimos o governo, estamos há dois anos e oito meses sem nenhum caso concreto de corrupção”, afirmou Bolsonaro, que é alvo de uma comissão parlamentar de inquérito aberta para investigar desvios de recursos na compra de vacinas.

Em outro aceno claro para sua base mais radical e ideológica, Bolsonaro disse que o Brasil estava “à beira do socialismo” quando chegou ao poder e afirmou ser “um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e deve lealdade ao seu povo”. Nessa mesma linha, o capitão da reserva sublinhou ainda que, no Brasil, “temos a família tradicional como fundamento da civilização e a liberdade do cidadão só se completa com a liberdade de culto e de expressão”.

Além dos recados à militância, Jair Bolsonaro tentou vender a imagem do país como uma boa oportunidade de investimento. Citou números de parcerias público-privadas e de leilões de aeroportos e ferrovias. “Temos tudo que um investidor procura, um grande mercado consumidor, tradição de respeito a contratos e confiança em nosso governo”, declarou, antes de mencionar a realização do leilão da tecnologia 5G, que deve ser lançado este ano. Na área humanitária, Bolsonaro citou a acolhida de 400 mil refugiados venezuelanos e anunciou a concessão de visto a cristãos, mulheres e magistrados do Afeganistão.

Apesar da alta expressiva do desmatamento — a retirada de vegetação da Amazônia em agosto foi a maior da última década –, Bolsonaro se apresentou na ONU como um defensor do meio ambiente, demostrando falta de sintonia total com os fatos. O tema, no entanto, é muito caro a americanos e, sobretudo, europeus, e, por isso, o presidente se esforçou para exibir um cenário positivo. “Recursos humanos e financeiros para órgãos ambientais foram dobrados e os resultados dessa importante ação já começaram a aparecer”, disse o brasileiro, antes de convidar os presentes no evento a visitar a Amazônia.

Voltando a falar para o público interno, Bolsonaro atacou governadores e prefeitos e se esquivou da responsabilidade pelo desemprego e pela inflação. “Sempre defendi combater o vírus e proteger os empregos. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação. No Brasil, para atender os mais humildes obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos, oferecemos um auxílio de 800 dólares”, disse o presidente. O valor do benefício mensal foi de 600 reais na primeira etapa do programa e, em média, de 250 reais na segunda fase.

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