Tony Winston/MS

Carteirada na vacinação: as investigações sobre quem fura a fila

23.01.21 08:05

Nos onze estados em que casos de “fura-fila” na vacinação contra a Covid-19 foram registrados, o Ministério Público identificou as mais diversas formas de privilegiar quem não está no primeiro grupo de prioridades. Neste momento, apenas profissionais da saúde da linha de frente do combate à pandemia, indígenas, idosos em asilos e pessoas com deficiência internadas  deveriam estar recebendo a vacina, mas, como é tradição no Brasil, houve quem arrumasse um “jeitinho” para tomar a dianteira na fila.

Os casos envolvem desde políticos a parentes de autoridades e empresários influentes. Até o momento, além do Distrito Federal, foram registradas situações de “fura-fila” nos estados da Bahia, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Paraíba, Pará, Amazonas, Pernambuco e Amapá.

O episódio mais emblemático ocorreu em Manaus. A principal denúncia que está sendo investigada pelo Ministério Público envolve as filhas de um empresário dono de uma grande faculdade privada da capital amazonense. As irmãs gêmeas, que são médicas, tomaram a vacina contra a Covid-19 dias após serem nomeadas para trabalhar na área administrativa de uma Unidade Básica de Saúde batizada com o nome do pai. Elas ainda registraram o momento da vacinação em seus perfis no Instagram. Para piorar, a primeira medida do prefeito da capital amazonense, David Almeida, não foi coibir o fura-fila, mas proibir que servidores divulgassem em suas redes sociais fotos do momento em que eram vacinados.

No Distrito Federal, o governo elaborou um inusitado plano de vacinação para o principal hospital público de Brasília: incluiu entre os grupos prioritários gestores administrativos, profissionais que atuam em ambulatório e servidores das enfermarias que não atendem pacientes com Covid-19. Em um ofício ao órgão, o Ministério Público local afirma que o ato atenta contra os “deveres de honestidade, imparcialidade e lealdade”.

Em Sergipe, a cidade de Itabi, que tem 5 mil habitantes e recebeu apenas 31 doses da vacina, teve o próprio prefeito na primeira lista dos imunizados. Em sua defesa, Junior de Amynthas, do DEM, disse que tomou a vacina para “encorajar” a população a fazer o mesmo. A Procuradoria-Geral do Estado pediu ao Ministério Público que apure o caso.

Em Pires do Rio, no interior de Goiás, o secretário de Saúde do município, Assis Silva, vacinou a própria mulher, que não faz parte do grupo prioritário. Depois, fez uma live para pedir desculpas à população e deu uma explicação inusitada. “Foi com intuito apenas de resguardar e preservar a saúde e a vida da mulher da minha vida. Sou capaz de dar a minha própria vida por ela”, disse. Ainda nesta sexta-feira, 22, o MP local conseguiu uma liminar na Justiça para afastá-lo do cargo.

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