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Após reportagem, ‘marqueteiro’ de Pazuello ameaça repórter de Crusoé

31.01.21 11:41

Em sua última edição semanal, Crusoé publicou uma reportagem sobre o publicitário Marcos Marques (foto), que se apresenta como Markinhos Show, escolhido pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para coordenar a estratégia de comunicação da pasta durante a pandemia de Covid-19.

O texto, assinado pelo repórter André Spigariol, explica como, pelas mãos de Pazuello, Markinhos Show ascendeu repentinamente na carreira, e logo na gestão da maior crise sanitária vivida pelo país nos últimos cem anos.

Até então, ele fazia campanhas eleitorais de políticos de cidades do interior e seu cargo público mais alto havia sido o de secretário de comunicação de Roraima.

A reportagem também traça o perfil do marqueteiro, que se diz hipnólogo, palestrante motivacional, vende máscaras na internet e, com frequência, desliza no português em seus posts.

Trata-se de um trabalho jornalístico relevante e necessário: levar aos leitores informações sobre o profissional encarregado, à custa de dinheiro público, da condução da política mambembe de comunicação do ministério que, sabidamente, vem falhando no combate à pandemia no país.

Ocorre que, após a publicação do texto, Markinhos Show passou a assediar e ameaçar o repórter de Crusoé, por meio de mensagens diretas e de publicações em suas redes sociais.

Irei levantar informações a seu respeito para uma matéria que estou fazendo sobre jornalismo de ataque. Irei escrever do mesmo formato (sic) que vc me atacou. Sucesso e paz! Boa noite”, escreveu o marqueteiro em mensagem enviada por WhatsApp ao repórter.

Em outra mensagem, ele ameaçou: “Irei postar toda a nossa conversa na íntegra e provar como vc promove a desinformação”. As mensagens a que o marqueteiro se refere são as que foram trocadas entre ele e o repórter durante a apuração – como é comum no processo de elaboração de reportagens como essa, ele foi procurado por Spigariol.

No Twitter, o marqueteiro publicou uma foto do jornalista e escreveu: “Pois é! Se tivesse ruim o meu trabalho ninguém estaria atrás de escrever a meu respeito. Como esse pobre assalariado infeliz”.

Não se sabe por quais meios, mas Markinhos Show cumpriu a promessa de buscar informações sobre o repórter – inclusive sobre sua vida privada. Neste sábado, 30, o marqueteiro publicou um novo texto, desta vez no Facebook, com o resultado da tal pesquisa que fez sobre o repórter. O post ataca Spigariol e lista informações particulares da vida dele.

Estou aguardando a resposta do JORNALEIRO André Spigariol que fez um ataque covarde contra a minha pessoa. Solicitei informações (ele não diz a quem) a respeito do dito cujo que desqualificou o meu currículo e minha vida. Segue (sic) abaixo as perguntas”, escreveu Markinhos Show. Na sequência, dirigindo-se a Spigariol, ele faz indagações sobre relações trabalhistas antigas do jornalista, sobre sua passagem por instituições de ensino (“Como foi a sua passagem pela Fundação Instituto de Educação de Barueri? Sempre você foi um aluno exemplar?”) e até sobre a sua experiência como bolsista no Chile.

Como se não houvesse tarefas mais importantes neste momento no Ministério da Saúde, e exibindo completo desconhecimento sobre a função do jornalismo – a partir do momento em que assumiu a missão a convite de Pazuello, o marqueteiro e o seu trabalho estão, por óbvio, sujeitos ao escrutínio da imprensa livre –, Markinhos Show se dedica a atacar e assediar um jornalista que nada fez além de cumprir com o papel de apurar e levar informação a seus leitores.

É mais uma evidência de que, no ministério que ele integra, sob o comando do general, as prioridades parecem passar longe do necessário combate a uma doença que já matou mais de 220 mil brasileiros.

Para além de se dedicar a pesquisar a vida do repórter, ao desfazer dele como “pobre assalariado infeliz”, o marqueteiro ainda mostra seu apreço por quem trabalha honestamente.

O levantamento sobre o jornalista contém informações que podem ser facilmente acessadas por meio de serviços de busca pela internet, como o Google, mas traz outras que não estão disponíveis em fontes abertas. Markinhos Show não esclarece como as obteve nem diz quem o ajudou a obtê-las.

Crusoé perguntou ao Ministério da Saúde e ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República – ao qual está vinculada a Abin, o serviço de inteligência oficial – se Markinhos Show utilizou a estrutura do governo para escarafunchar a vida do repórter. Até o momento, não houve resposta.

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