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Análise: O cálculo geopolítico do Irã

17.09.19 12:37

Com a demissão do conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, os Estados Unidos sinalizaram na semana passada que estariam menos propensos a entrar em conflitos militares e que a diplomacia ganharia importância. Falava-se até em um encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o iraniano Hassan Rouhani.

No sábado, 14, duas refinarias da Arábia Saudita foram atacadas por drones e mísseis de cruzeiro. O Irã, comandado pelo aiatolá Ali Khamenei (foto), negou o envolvimento no ataque, mas é o único suspeito.

Apesar de o ataque à Arábia Saudita não fazer sentido quando se leva em consideração a expectativa que havia sobre negociações, há razões geopolíticas para que o Irã tenha desferido o golpe.

“O Irã tem dois imperativos. O país precisa enfraquecer a coalizão de países anti-Irã e deve gerar pressão sobre os Estados Unidos para reduzir as sanções contra a economia iraniana”, escreveu George Friedman, analista que estava na consultoria Stratfor e hoje comanda a Geopolitical Futures.

A coalizão anti-Irã citada por Friedman é aquela formada por Estados Unidos, Arábia Saudita, países sunitas do Golfo e por Israel. Nos últimos anos, os líderes desses países estreitaram laços. Israel e Arábia Saudita, ainda que sem contatos oficiais, começaram a se aproximar de maneira clandestina a ponto de se especular sobre um acordo de paz, similar ao que foi feito com Egito e Jordânia. Com essa movimentação em seu entorno, o Irã começou a se ver cada vez mais ameaçado.

O ataque às refinarias sauditas joga uma bomba no meio dessa coalizão. De repente, a Arábia Saudita se descobriu extremamente vulnerável, enquanto os Estados Unidos relutam em sair em sua defesa. Com Trump preocupado com as eleições presidenciais do ano que vem, a chance de um envolvimento militar americano é baixa. Com a exploração do petróleo e gás de xisto nos Estados Unidos, o interesse americano no Oriente Médio também diminuiu.

Se os americanos resolverem retaliar o Irã, a Arábia Saudita pagará o preço com novos ataques. Se os americanos preferirem a inação, então a coalizão anti-Irã perderá força.

Quanto às sanções econômicas contra o Irã, ficará mais difícil mantê-las em uma situação como a atual. Para os iranianos, os acontecimentos das últimas semanas só mostram que eles podem ir mais além para, lá na frente, conseguir mais concessões em uma mesa de negociação com as potências mundiais.

“Os iranianos viram a demissão de John Bolton como um sinal de fraqueza dos americanos. Eles também entenderam que os Estados Unidos e a Arábia Saudita têm poucas opções e muito pouco apetite para reagir fortemente”, diz Umer Karim, especialista em Oriente Médio e pesquisador do Royal United Services Institute, em Londres. “Para o Irã, o que importa é fortalecer mais sua posição para quando, um dia, forem sentar-se com Trump.”

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