Flickr/Governado do Estado de São Paulo

A única via de Doria e o risco da ‘cristianização’

20.09.21 16:31

O governador de São Paulo, João Doria, afirmou nesta segunda-feira, 20, o que cansamos de escrever na Crusoé, mas que só agora ele admite publicamente: a via do pré-candidato do PSDB ao Planalto é uma só, ou seja, a dele mesmo.

Quando, ao oficializar sua inscrição na disputa interna do partido, Doria diz que o vencedor das prévias do PSDB será “naturalmente” o candidato da terceira via, ele está se referindo a ele próprio – o governador paulista acredita, “naturalmente”, que vencerá a refrega tucana. De fato, é o grande favorito. Mas, na política, como no esporte e na vida, não convém cantar vitória antes do tempo. Doria, no entanto, “acelera”, para usar seu léxico.

A interlocutores, o governador já revelou não abrir mão da candidatura ao Planalto, mesmo que os demais partidos encontrem outro nome com mais capacidade de articulação e musculatura eleitoral para desbancar Lula e Bolsonaro nas urnas. O significado disso é que, a se confirmar o triunfo de Doria nas prévias do PSDB, a terceira via já nasce rachada. E o filme de 2018 começa a ser rodado novamente. Dessa vez, com provável final feliz para Lula e o PT – segundo todas as pesquisas, hoje, o antibolsonarismo engole o antipetismo.

Para escapar desse cenário “tétrico”, diz um dos articuladores do “nem Lula nem Bolsonaro”, seria necessário um movimento do PSDB de “cristianização” do próprio candidato. “A cristianização seria um caminho para não rachar a terceira via, mas para isso Doria teria que chegar em abril como está hoje: sem alcançar os dois dígitos das intenções de voto, com uma rejeição grande e desacreditado”, diz.

A expressão remonta à campanha presidencial de Cristiano Machado, em 1950. Traído ou “cristianizado” por políticos do próprio partido, o PSD, o então candidato a presidente da República acabou trocado durante a corrida eleitoral por Getúlio Vargas, do PTB. Resultado: em outubro daquele ano, Vargas regressou ao Palácio do Catete, após permanecer no poder entre 1930 e 1945.

Depois de 1950, o fenômeno da cristianização ocorreu em 2002, quando José Serra foi abandonado por setores do PSDB e pelo PFL, então aliado de primeira hora dos tucanos, e em 1989, na eleição de Fernando Collor, em que tanto o PFL cristianizou Aureliano Chaves, quanto o PMDB fez o mesmo com Ulysses Guimarães, em favor do pretenso caçador de marajás.

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