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À la Decotelli: inconsistências em currículo derrubam candidato do Novo em SP

24.09.20 00:20

O Diretório Nacional do Partido Novo comunicou aos filiados da sigla na noite desta quarta-feira, 23, a suspensão em caráter liminar da candidatura de Filipe Sabará a prefeito de São Paulo, por decisão do Conselho de Ética da legenda. Segundo apurou Crusoé com fontes próximas à cúpula do Novo, um dos principais motivos para a decisão foram as inconsistências apresentadas pelo candidato em seu currículo.

A formação acadêmica e o histórico profissional de potenciais candidatos da sigla são itens considerados fundamentais pelo Novo durante o famoso “processo seletivo” da legenda. Mas Sabará parece não ter tido o zelo exigido aos aspirantes a cargos eletivos, que independe de agremiações às quais pertençam, na hora de expor ao público suas informações pessoais. Há dias, Crusoé identificou uma série de incongruências no perfil profissional do candidato publicado na rede LinkedIn, apuração que inclusive levou Sabará a tirar do ar informações que constavam de sua página no último domingo. 

Inicialmente, o site informava que Sabará havia cursado Relações Internacionais na FAAP, Comércio Exterior no Centro Universitário Ibero-Americano e, ainda, pós-graduação em Marketing e Comunicação Digital na Belas Artes. Nenhum desses cursos, no entanto, chegou a ser concluído. “Ele nunca disse que concluiu”, justificou a assessoria do candidato. Sabará dizia, ainda, que tinha “especialização em Políticas Públicas pela Johns Hopkins University”, nos Estados Unidos, mas o diploma em questão se tratava tão somente de um certificado emitido pela organização Comunitas, referente a um curso de cinco dias realizado na universidade, em 2019. Posteriormente, Sabará retificou o texto para “capacitação em Lideranças Públicas na Johns Hopkins University”. Agora, o perfil informa que o curso de pós-graduação está “trancado”, dado que não era público até então. 

Todas as inconsistências encontradas foram alvo de questionamentos por Crusoé à assessoria do pré-candidato dias antes das “retificações” (confira neste link o currículo apresentado pelo candidato antes das alterações). Confrontado com as informações, Sabará sustentou que tinha graduação em Marketing pela Faculdade de São Paulo, ligada ao grupo Uniesp e à Universidade Brasil. De acordo com o diploma encaminhado pelo candidato à reportagem, ele fez o curso de tecnólogo entre 2007 e 2010. O curso, porém, só foi reconhecido pelo Ministério da Educação em 2011, um ano após a formatura do candidato, e extinto pelo próprio MEC em 2019. O reconhecimento é obrigatório para que um diploma seja válido no Brasil.

Os problemas não param aíCrusoé apurou que o processo administrativo do Ministério da Educação a partir do qual a graduação foi descredenciada faz parte de uma investigação do Ministério Público Federal em São Paulo sobre irregularidades cometidas pela Universidade Brasil. Fontes com conhecimento do inquérito afirmaram à reportagem que “existem indícios de que a instituição validou diplomas falsos”. Sabará explicou que o diploma apresentado foi expedido em 2017 porque ele retirou o documento somente nessa data, em “segunda via”. 

Ocorre que, em contato telefônico com a Faculdade de São Paulo, Crusoé foi informada que a instituição de ensino não possuía registros de Filipe Sabará, nem em seu nome, nem em seu CPF. Pela decisão do MEC que extinguiu o curso, a instituição seria obrigada a manter os registros dos ex-alunos. Questionado, o candidato orientou a reportagem a procurar a reitoria da Universidade Brasil, que se limitou a ratificar que “o sr. Filipe Tomazelli Sabará se formou no curso de Tecnologia em Marketing pela Faculdade de São Paulo”.

O jogo de esconde-esconde prosseguiu, desta vez, envolvendo dados triviais. Filipe Sabará e a Universidade Brasil não forneceram à reportagem o histórico escolar usado na emissão do diploma, um documento público. O candidato ainda se recusou a mostrar uma cópia de seu Trabalho de Conclusão de Curso, alegando tratar-se de “informação pessoal”. A assessoria do candidato disse ainda não ser possível mostrar outros trabalhos apresentados no decorrer da graduação porque o curso foi concluído “há 10 anos”, e não há mais cópias desses registros, em virtude de mudanças de endereço do empresário.

A candidatura de Sabará — agora  enrolado em uma polêmica similar àquela em que se envolveu Carlos Alberto Decotelli, que deixou o comando do Ministério da Educação antes mesmo de assumir o cargo formalmente por problemas em seu currículo — já vinha sendo questionada por filiados e dirigentes da legenda, incomodados com declarações favoráveis a Jair Bolsonaro e elogios a Paulo Maluf. Também repercutiu negativamente a pecha de “velha política” atribuída ao Novo em razão da nomeação, por indicação de Sabará, da mulher do presidente do partido na capital paulista para o posto de presidente do Fundo Social de São Paulo na gestão de João Doria. 

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