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A inédita aproximação entre universidades de Israel e da Arábia Saudita

15.07.20 09:58

Pela primeira vez, um pesquisador da Arábia Saudita publicou um artigo em um jornal científico de Israel — um feito histórico no Oriente Médio. O estudo de autoria de Mohammed Ibrahim Alghbban, diretor de estudos hebraicos na Universidade Rei Saud (foto), em Riad, saiu na última edição da revista Kesher, da Universidade Tel Aviv.

“Certamente o professor saudita teve autorização do regime para publicar o artigo. Seria impossível publicar isso sem um consentimento oficial”, diz o historiador militar israelense Shaul Shay, que já foi do Conselho de Segurança Nacional de Israel. “Trata-se de algo totalmente raro e de enorme importância. Se isso tivesse acontecido há uma década, o professor provavelmente estaria arriscando a carreira ou a vida.”

O artigo de Alghbban saiu em hebraico e leva um título longo: Contribuição para a melhoria da imagem do profeta Maomé aos olhos do público israelense: alianças e trocas de correspondência de Maomé com judeus da península arábica. O texto afirma que Maomé manteve boas relações com os judeus e que só se desentendeu com eles por questões religiosas, não políticas. “Acusar o Islã e o profeta Maomé de discursos de ódio e racismo contra tribos judaicas em Hejaz é equivocado. Maomé tratou igualmente todos os grupos sociais em Medina e em outros lugares sob seu controle, independentemente de raça e religião. As deturpações na pesquisa até agora se devem ao fato de suas cartas nunca terem sido traduzidas para o hebraico”, escreveu Alghbban.

O ineditismo acadêmico é o reflexo de uma mudança dramática na atitude de países árabes em relação a Israel. “Os governantes dessas nações ficaram preocupados com o poder dos jovens após a Primavera Árabe, com as guerras civis em países como Síria, Iêmen e Líbia, com o Estado Islâmico e, principalmente, com a expansão da influência do Irã, do ramo xiita do islamismo”, diz Shay. “Ao olhar ao redor, os árabes sunitas entenderam que a principal ameaça a existência deles não era Israel, e sim o Irã.”

Arábia Saudita e Israel não mantêm relações diplomáticas. Soldados sauditas participaram das guerras de 1948 e 1973, contra Israel. O reino historicamente se colocou do lado dos palestinos nas disputas com o governo israelense. Este ano, os sauditas apoiaram o plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que não seguiu adiante por oposição dos palestinos.

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